terça-feira, 15 de maio de 2012

AVIA NO TEMPO

o problema de todas as horas
nos minutos interiores de cada alma
os segundos que se perdem
se prendem se pedem suplicam
nos momentos em que olhos se cruzam

o dilema de todas as almas
nos interiores de cada minuto
as horas as ações as frações
as orações que se servem
nos pratos nos cálices genuflexórios

os dias escorridos das bandeiras
canecos cheios coagulando tempo
os segundos por dentro das porongas
a farinha d'água escovando as costas
a faca nos troncos sulcando gotas

as semanas virando sernambi
vão cobrindo os princípios defumados
cavadores refugados minutos prensados
falas se foram virando silêncio
o inverno protegido em cada jamaxi

o problema de todos os canecos
nos protestos interiores de cada porrada
os minutos por fora das semanas
o jabá cozido na metade
a mulher deitada masturbando a rede

as estradas dos meses embalados
a umidade subindo em cada corpo
o sol derretendo em cada pele
o saldo da vida dividida e estivada
os anos vão ficando em cada porto


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(fragmento do antropoema AcreDITO, saga da ocupação acreana que redundou na revolução contra bolivianos para anexação do território ao Brasil)

AVIA = prover alimentos em troca da borracha que se vai produzir. O poema é uma paródia do tema/problema.

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